Férias contingentes
A covid-19 permitiu-me passar uma semana de férias muito agradável no Algarve, na primeira metade de agosto. Nunca tinha ido à praia em questão e imagino que, em verões normais, esteja repleta de turistas. Mas eu estive lá com o núcleo familiar em ano de covid e em tempo de corredor aéreo com o Reino Unido fechado.
Tudo o imaginário que construíra sobre regras complicadíssimas a frequentar a praia revelou-se infundado. Muitos portugueses, talvez porque imaginaram praias em agosto de um modo semelhante ao meu, preferiram concentrar-se no Parque Natural da Peneda Gerês. Passei lá excelentes férias, mas, pelas reportagens televisivas, este ano foi uma má opção.
De diferente na praia notei apenas uma bandeira hasteada que indicava não o estado do mar, mas da frequência. Geralmente a bandeira estava no amarelo. No último dia a maré estava cheia e as pessoas tinham menos espaço na areia para se mexerem. Quando chegámos à praia vimos a bandeira vermelha hasteada, mas ninguém nos impediu de entrar.
Uma das inovações estivais que se deve à covid-19 são as «apps» que indicam a «cor da frequência da praia». Basta consultar o telemóvel para saber se a praia tem pouca, a suficiente ou demasiada gente. É uma boa ferramenta que será útil no mundo «pós-covid».
Admito que, na mesma semana, no verão passado, fosse difícil encontrar lugares para estacionar ou mesas para comer em restaurantes. No início do mês que agora finda foi bastante fácil estacionar o carro e comer em restaurante onde só mais uma ou duas mesas estavam ocupadas. Os empregados que nos atendiam eram bastante zelosos.
Bastou o Reino Unido abrir o corredor aéreo para o cenário que descrevi se alterar completamente. A bem da economia e esperemos que não a mal da saúde pública. É possível que esta situação também seja efémera. A contingência não é apenas uma condição legal, é o estado do mundo.