Uma semana depois do início do confinamento ligeiro, recebido por uns num estado blasé, embora não necessariamente descuidado, e por outros com uma atitude de boicote ativo, entrámos num confinamento pesado. As medidas são mais duras e a emoção agora dominante já não é a fadiga ou a irritação, mas o medo. É uma emoção forte e com a sua utilidade, o medo. Foi essa emoção, ou mesmo o pânico, que esteve na origem do primeiro confinamento. Muitas pessoas começaram a fechar-se em casa, mesmo antes do governo decretar o confinamento; a retirar os filhos das escolas mesmo antes do governo fechar as escolas.
Os números em Portugal são cada vez mais assustadores. Além dos números, há as histórias de familiares, amigos, conhecidos que adoeceram. No início da pandemia havia quem pensasse que tudo não passava de uma conspiração, pois não conhecia ninguém com covid-19. Agora, basta passar, por exemplo, frente à entrada do Instituto Ricardo Jorge para observar a caudalosa fila de pessoas à espera de fazerem um teste. Poucas serão as pessoas que, no último ano, não estiveram com alguém que já esteve em risco.
As notícias, mesmo comunicadas sobriamente, não desmentem o medo. A ciência deu-nos a vacinação que prossegue a bom ritmo, mas um ritmo bom, em tempos normais, é extraordinariamente lento em tempos de pandemia. Os cientistas já divulgaram que a nova estirpe britânica, a tal que está na origem de vinte por cento dos casos de covid-19 em Portugal, além de ser mais contagiosa é trinta por cento mais mortal.
As ruas estão muito mais desertas do que há uma semana. Quando se passava frente a uma escola havia sempre animação. Agora as escolas estão fechadas, a lembrar que os alunos também estarão fechados, nas suas casas, eventualmente frente a um ecrã.
É difícil e talvez até seja inconveniente eliminar o medo quando nos encontramos numa situação extremamente perigosa. O importante é controlar o medo, só nessa condição nos pode ser útil. E construir um lugar para outras emoções mais positivas.