O regresso à escola presencial
O regresso às aulas presenciais não foi um regresso das crianças aos tempos pré-covid. Algo mudou, algo está sempre a mudar e só retrospetivamente nos apercebemos do sentido dessas mudanças.
Ir buscar o meu filho à escola tornou-se também um exercício de memória. A entrada da escola, antes povoada de crianças, pais, auxiliares, uma agitação de brincadeiras, reencontros, sinais de reconhecimento, conversas postas em dia, é agora um espaço vazio vigiado por um porteiro com máscara azul.
Muitas fitas de plástico desenham o recreio como se fosse um labirinto ou um puzzle de «cenas de crime». O meu filho foi chamado pelo porteiro e veio ter comigo atravessando o recreio vazio e silencioso. Explicou-me que as fitas de plástico se destinam a definir os espaços onde as crianças podem brincar, confinadas por paredes mentais. Os miúdos já não jogam à bola. Inventaram um jogo de substituição que, explicou-me, é um misto de «futebol humano» e «manteiga derretida».
Hoje, a propósito de um TPC, disse que as «crianças precisam de sonhar para poderem ser felizes». A imaginação tem funções melhores do que construir paredes invisíveis.