A Quarta Vaga
Em grande parte vacinados e de férias, os portugueses gostavam de se entregar à ilusão de que a quarta vaga de covid-19 já passou e de aqui para a frente viverão numa «normalidade» qualquer.
Infelizmente os indicadores resistem a esta visão otimista, mostrando o quadro complexo em que temos de viver (ver o relatório aqui). O R(t) desceu para 0,92, o que parece ser um nível aceitável, apesar do levantamento das restrições. Tudo indica que a explicação é, em grande parte, «natural»: no verão a atmosfera mais seca e o maior convívio ao ar livre diminuem o risco de contágio.
A vacinação mantém o nível de mortes baixo, mas o número de pessoas internadas e em cuidados intensivos não é assim tão baixo: hoje há 919 pessoas internadas e 204 em cuidados intensivos. A vacinação completa e a melhoria nos tratamentos salvam muitas pessoas de morrer, mas são menos eficazes a afastar pessoas de internamentos em hospitais.
Ainda assim, o número de mortes é relativamente elevado: hoje morreram 15 pessoas. No verão passado, morriam três ou quatro pessoas por dia com covid-19, dando margem de manobra a muitas teorias da conspiração e negacionistas acerca da pandemia. A estatística responde facilmente ao problema: se a incidência da doença é elevada – hoje há em Portugal 384,5 casos de SARS-CoV-2 por cem mil habitantes, mesmo que a percentagem de mortalidade seja baixa, nunca nos há-de parecer suficientemente baixa.
A «luz verde» que gostamos de associar à «bandeira verde» das praias de verão será sempre relativa. O processo de aprendizagem de convívio com o vírus SARS-CoV-2 está longe de ter terminado.