Aviões em terra
Tenho aproveitado uma parte das manhãs destes solarengos dias de desconfinamento para passear na Alta de Lisboa, com vista para o aeroporto da Portela. Nos meus passeios, é raro ver um avião a aterrar ou a levantar voo.
“Gaivotas em terra, tempestade no mar”, é um ditado português.
Os aviões em terra são uma imagem da tempestade interior em que vivemos, das limitações físicas impostas pela pandemia.
Fomos, literalmente, levados a pôr mais os “pés na terra”, outra expressão portuguesa, que apela a que prestemos mais atenção ao mundo que nos rodeia.
Mas ainda não é claro se a imagem dos aviões em terra nos abre as portas para um mundo mais consciente e responsável ou para uma tempestade de potencial destrutivo inimaginável.
É possível que, além de nos tornarmos capazes de dar uma resposta de saúde pública à altura da pandemia, nos tornemos mais consciente de que pandemias deste tipo são potenciadas pela destruição de habitats naturais. E que a prevenção de novos surtos de epidemias de vírus que passam de animais selvagens para seres humanos implica a preservação dos habitats naturais; a promoção de práticas económicas sustentáveis; a educação e novas oportunidades de trabalho às populações que vivem na fronteira com habitats naturais.
Também é possível que nos deixemos intoxicar por teorias da conspiração e pela guerra entre os Estados Unidos e a China. Além da “guerra” contra o SARS-CoV-2 há muitas outras guerras políticas e económicas em curso.
Ainda melhor do que termos mais aviões no ar é termos mais os pés na terra.