Confinamento ou contaminação voluntária?
Ontem, na entrevista à RTP1, António Costa defendeu a estratégia de confinamento que o governo tem seguido dos críticos que defendem a proteção dos grupos de risco e a contaminação voluntária da maioria para alcançar a imunidade de grupo.
O argumento do primeiro-ministro foi simples: não seria possível mobilizar os portugueses para uma contaminação voluntária. Antes de ser decretado o estado de emergência muitos portugueses já começaram a ficar em casa. Implicitamente António Costa disse que a política de confinamento veio «legalizar» e aplicar de uma forma sistemática e consequente as medidas que muitos portugueses queriam que fossem aplicadas.
Além deste argumento, há mais dois contra a estratégia da contaminação voluntária: em caso de contaminação voluntária havia o risco mais do que certo do serviço nacional de saúde entrar em rutura porque não estava preparado para tratar uma avalanche de casos de covid-19; há ainda muito desconhecimento acerca da covid-19 – já têm sido assinaladas mortes ou estados muito graves de pessoas que não pertenciam a grupos de risco e não se sabe exatamente quais são as sequelas, nem durante quanto tempo dura a imunidade adquirida.
É claro que se a situação se prolongar por mais de um ano, todos estes fatores podem mudar: as pessoas podem fartar-se de estar confinadas (porque a períodos de «desconfinamento» podem seguir-se novos períodos de confinamento) e desempregadas, ou com baixos salários e preferir o risco da doença ao risco da pobreza; o serviço nacional de saúde pode reforçar ainda mais a sua capacidade de resposta à covid-19; o vírus pode ser melhor conhecido e os riscos de contaminação parecerem menores.
Num cenário destes, haverá mais vozes a defender a contaminação voluntária?