O Segundo Verão da Pandemia
Nas minhas férias de praia no segundo verão da pandemia regressei a Monte Gordo, após o atípico verão passado, o primeiro da covid-19 e o primeiro, em vários anos, a ser passado noutra praia. Apesar de não possuir termo de comparação, fiquei com a sensação de que, em 2020, o pânico da covid-19 me proporcionou, paradoxalmente, uma série de experiências raras no sítio em questão: abundantes lugares para estacionar o carro; muitas mesas de restaurante por onde escolher. E um ambiente relativamente descontraído.
Estar em Monte Gordo em tempos de covid-19 permite um exercício de «descubra as diferenças». As mais óbvias são as máscaras na cara da maior parte das pessoas. Mais subtis são os espaços maiores entre os chapéus-de-sol.
Mesmo no calçadão de Monte Gordo a sensação é de «business as usual» - com máscaras. Uma multidão densa e variada movimenta-se no calçadão ao longo do qual são vendidos livros antigos e novos, doces e comezainas várias, brinquedos e roupas, artesanato e um imenso etc. Além das barracas a vender comida e produtos vêem-se ainda uma série de pessoas que oferecem serviços e performances, a começar pelo desenho ou pintura de retratos.
Mais surpreendente ainda é a continuação de uma espécie de feira popular onde em especial as crianças se entretêm com carrinhos de choque, o clássico carrossel, a original «casa dos piratas das caraíbas», etc. Alguns destes espaços de entretenimento parecem ilhas «covid-19», pois as crianças que neles se veem são as crianças de todos os verões.
Se as máscaras fossem mais animadas podíamos imaginar que estávamos numa mistura de carnaval e de verão. Mas as máscaras são as higiénicas máscaras brancas ou azuis, tapando talvez sorrisos e pedindo distanciamento.
Apesar da covid-19, ou por causa da covid-19, parece mais urgente gozar a felicidade que o verão nos pode oferecer.