Um futuro sem confinamentos gerais
Este verão vamos todos descobrir o que é a covida em férias. E depois veremos como é possível conviver em tempo de escola, trabalho e humidades outonais e invernais com o SARS-CoV-2 e os vírus que se seguem.
Não acredito é que seja possível voltarmos a um confinamento geral. As condições que potenciam pandemias como a da covid-19 não vão desaparecer tão cedo. Estou a referir-me à destruição de habitats naturais e à promiscuidade entre animais selvagens, animais domésticos e seres humanos. A China já tomou medidas rigorosas para evitar situações propícias a novas epidemias. Mas, por exemplo, no Brasil, na Amazónia, toda a política vai num sentido contrário. Se nos próximos dez anos tivermos mais quatro ou cinco pandemias como a da covid-19 é inviável responder às novas crises com novos confinamentos gerais e outros tantos afundamentos económicos.
Continuo a achar que o confinamento geral teve razão de ser no nosso país, por duas razões: em primeiro lugar, mesmo que se prove que o confinamento não evita mortes, apenas as adia, acho que valeu a pena. Não é a mesma coisa termos mil e quinhentas mortes em três meses ou em três semanas, quando o sistema nacional de saúde foi apanhado de surpresa, sem equipamentos adequados. O adiamento permitiu adquirir novos equipamentos e evitar que os médicos tivessem que escolher a quem é que davam o ventilador. Em segundo lugar, havia um alarme instalado na sociedade e, se o governo não decretasse o confinamento, havia o risco de haver uma proliferação de «confinamentos selvagens» com pessoas a despedir-se, pais a retirarem os filhos das escolas, empresários a fecharem empresas, com impactos sociais e económicos tão ou mais negativos do que o confinamento implementado pelo governo e Presidente da República, com apoio do parlamento.
Mas foi uma situação irrepetível. O sistema nacional de saúde, as famílias, os trabalhadores, os empresários, os responsáveis políticos têm agora uma consciência dos perigos, dos recursos para gerir a situação, que antes não possuíam. Tudo o que aprenderam nos últimos meses terá de ser usado para conviver com os vírus.
Desconfinar é preciso.