O futuro a preto, branco…e rosa
Vale a pena ler – ou ouvir – esta entrevista a Donald G. MacNeil, um jornalista de ciência norte-americano que escreveu, em jornais e livros, sobre vários surtos epidémicos.
A visão que nos dá sobre o mundo que pode sair da pandemia da covid-19 é distópica a curto prazo e otimista a longo prazo.
O que pode estar na forja desta pandemia é um mundo em que todas as discriminações sociais que já existem – entre ricos e pobres, homens e mulheres, pessoas com idade a mais ou a menos, negros e brancos – são relativizadas por uma nova dicotomia: imunes e não imunes.
Os imunes têm trabalho. Os imunes visitam e abraçam parentes e amigos. Os imunes andam na rua e viajam entre países. Os não imunes estão muito mais limitados no acesso ao trabalho; vivem fechados em casa, com contactos sociais reduzidos.
Esta dicotomia pode conduzir a uma tentação muito perigosa, que talvez pareça absurda à maior parte dos portugueses, mas que parece muito verosímil nos Estados Unidos: as pessoas autoinfetarem-se para obterem imunidade. É claro que o processo pode correr mal e muita gente morrer por autoinfeção.
Donald G. MacNeil termina a sua entrevista com uma nota otimista: assim como os «loucos anos 20» se seguiram na Europa e nos Estados Unidos à I Grande Guerra e à pneumónica, assim como à II Guerra Mundial se seguiram trinta décadas de prosperidade articulada com um forte sentimento de solidariedade e responsabilidade social, à crise da covid-19 pode seguir-se um período de bem-estar geral.
Oxalá.