Há Festa no Seixal
É uma boa notícia, neste tempo triste, de distanciamentos, isolamentos e medos, haver festa à luz do dia e iluminada à noite. Vivemos num tempo bipolar, em que uma maioria se confinou mentalmente e algumas minorias contestatárias fazem festas clandestinas e até algumas festas loucas «da covid». Que alguns portugueses recusem quer o autoconfinamento quer a clandestinidade e façam uma festa cumprindo regras de segurança e enfrentando críticas merece o meu aplauso. A coragem é também isto, não é espicaçar touros.
Os portugueses que organizam a festa do Avante são comunistas, o que para uns é uma aberração e para outros não sei bem o que é. O universo do PCP é-me bastante estranho. Cresci a achar que os comunistas eram, na melhor das hipóteses, umas pessoas bem intencionadas, fiéis a uma ideologia condenada pela História. Com o passar do tempo fui percebendo que todas as ideologias se podem tornar obsoletas. Especialmente aquelas que, às tantas, se colocam no patamar do fim da História – como também foi o caso em regimes do chamado «socialismo real». Não ter ideologia não é nenhuma garantia para escapar à condenação da História. Alguém poderá sempre perguntar-nos: por que é que não fizeste nada para evitar que isto descambasse? Por que é que apoiaste um palhaço demagogo que nos levou à desgraça? Não ter ideologia não é desculpa.
Viver é correr riscos, como lembrou Jerónimo de Sousa – e bem. Já falha o alvo quando pensa que todos os críticos da Festa do Avante são anticomunistas, subestimando a insegurança popular que está a ser gerada pela pandemia.
Ainda não é desta que vou à Festa do Avante e talvez nunca vá. Mas, não sendo um fanático de festivais de verão nem comunista, este ano até tinha uma razão para ir à Festa do Avante: afirmar uma posição sobre a pandemia, recusando quer o medo quer a inconsciência.