O princípio do fim da pandemia
Quase dois anos após o início da pandemia, tive uma versão ligeira da covid-19. Como a minha mulher, o meu filho e milhares de outros portugueses que estão a ser varridos pela variante Ómicron. A sensação é de alívio. Foi um longo caminho percorrido desde o primeiro confinamento, marcado pelo medo do desconhecido e pelas certezas ilusórias de alguns negacionistas, até ao anticlímax de uma pessoa pensar que teve mais um ataque de rinite alérgica e afinal, o teste declarou, teve covid-19.
De certo modo, tive covid-19 na melhor altura possível: pouco tempo depois da terceira dose da vacina estar ativa. Mas há um grau de incerteza sobre os efeitos da covid-19 que apenas é ultrapassado depois de a apanhar. Nunca sabemos como é que o corpo vai reagir. Há pessoas em grande forma física que são arrasadas pela covid-19 e outras pouco dadas ao desporto que passam incólumes pela doença.
O clima geral é de descompressão. Já ouvi o seguinte comentário: «acabei de apanhar a terceira dose da vacina, agora devia ficar infetado para despachar isto». Compreende-se, embora não seja uma atitude recomendável. Nunca se sabe a covid-19 que nos calha na rifa e se atualmente a doença já mata pouco, as sequelas podem ser muito incómodas ou mesmo incapacitantes.
É claro que a distribuição desigual das vacinas por todo o mundo pode favorecer a emergência de novas variantes que façam descambar o processo de libertação da pandemia. Mas o nosso horizonte é muito melhor do que no tempo em que se dizia que talvez nunca se descobrisse uma vacina para a covid-19, como nunca se descobriu uma vacina para a SIDA. A situação pode piorar mas também pode voltar a melhorar. Falta-nos saber muito sobre o SARS-CoV-2 – nomeadamente sobre os seus efeitos a longo prazo – mas já sabemos o suficiente para travar a pandemia. É esse horizonte que nos permite respirar.