Neste blogue não pretendo defender nenhuma tese sobre a covid-19, apenas publicar uma crónica que sirva de registo e de testemunho, a partir da minha situação concreta, destes tempos de crise e mudança. Escrito isto, mantenho uma atenção crítica às diferentes teses, interpretações, análises que vão sendo publicadas sobre a pandemia e os seus efeitos sociais, económicos e políticos. Aceito, provisoriamente, as teses que me parecem melhor fundamentadas e exponho as minhas reservas em relação a outras.
Na dúvida, cumpro as normas de segurança decretadas por um governo e um presidente da República que têm melhor informação científica do que a que disponho sobre a pandemia. O Estado português – e já agora, a maioria dos portugueses – não são imunes à crítica nem sequer ao disparate mas, até agora, têm-se saído melhor nesta crise do que outros países, alguns bem perto de nós, outros – como os Estados Unidos e o Reino Unido – que costumam ser apresentados como faróis cá no burgo.
Um comentador frequente deste blogue defende que a melhor forma de combater o covid-19 seria enviar as crianças para as escolas, deixá-las infetarem-se umas às outras e, desse modo, alcançar a imunidade de grupo. Ainda que fosse verdade…quem estaria disposto a correr riscos para confirmar esta verdade?
Luís Salgado Matos no seu blogue vale sempre a ler, mesmo que seja para discordar, o Economista Português, tem vindo a contestar a quarentena devido aos seus desastrosos efeitos económicos e apresenta-nos um gráfico ( ver aqui) que compara a evolução do covid-19 em três países: Portugal, Holanda e Suécia. Portugal adotou o confinamento, a Holanda e a Suécia não.
A partir do dia em que há registos dos três países, a evolução é semelhante. Daí o blogger conclui que o confinamento é inconsequente. Mas os outros gráficos que tenho visto compararam a evolução entre os diferentes países a partir do número de dias após o primeiro registo (ou do centésimo), ou da primeira morte, em todos eles.
No referido gráfico a Suécia e a Holanda têm um pico de casos antes de haver registos em Portugal. Se as três linhas partissem todas do mesmo ponto podíamos chegar à conclusão oposta: o confinamento poupou-nos os picos iniciais que sofreram a Holanda e a Suécia.
Infelizmente, pelo que tenho lido, o confinamento forçado pouco mais faz por nós do que dar-nos tempo e atrasar o processo. O que é melhor do que nada, pois durante esse tempo muitas pessoas estão a ser e serão testadas e os serviços de saúde reforçarão a sua capacidade. Quando a quarentena acabar lá para maio estaremos melhor preparados para resistir ao covid-19 do que se tivéssemos andado por aí, como se nada fosse. Será muito mais difícil chegarmos ao caos nos serviços de saúde que afetaram Itália, Espanha ou o Estado de Nova Iorque.
Até gostava que os críticos da quarentena tivessem razão. Isso queria dizer que, após o fim da quarentena, continuávamos com a baixa mortalidade que temos tido até agora.