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Diário do Ano C-19

Diário do Ano C-19

05
Ago21

O Segundo Verão da Pandemia

João Miguel Almeida

Nas minhas férias de praia no segundo verão da pandemia regressei a Monte Gordo, após o atípico verão passado, o primeiro da covid-19 e o primeiro, em vários anos, a ser passado noutra praia. Apesar de não possuir termo de comparação, fiquei com a sensação de que, em 2020, o pânico da covid-19 me proporcionou, paradoxalmente, uma série de experiências raras no sítio em questão: abundantes lugares para estacionar o carro; muitas mesas de restaurante por onde escolher. E um ambiente relativamente descontraído.

Estar em Monte Gordo em tempos de covid-19 permite um exercício de «descubra as diferenças». As mais óbvias são as máscaras na cara da maior parte das pessoas. Mais subtis são os espaços maiores entre os chapéus-de-sol.

Mesmo no calçadão de Monte Gordo a sensação é de «business as usual» - com máscaras. Uma multidão densa e variada movimenta-se no calçadão ao longo do qual são vendidos livros antigos e novos, doces e comezainas várias, brinquedos e roupas, artesanato e um imenso etc. Além das barracas a vender comida e produtos vêem-se ainda uma série de pessoas que oferecem serviços e performances, a começar pelo desenho ou pintura de retratos.

Mais surpreendente ainda é a continuação de uma espécie de feira popular onde em especial as crianças se entretêm com carrinhos de choque, o clássico carrossel, a original «casa dos piratas das caraíbas», etc. Alguns destes espaços de entretenimento parecem ilhas «covid-19», pois as crianças que neles se veem são as crianças de todos os verões.

Se as máscaras fossem mais animadas podíamos imaginar que estávamos numa mistura de carnaval e de verão. Mas as máscaras são as higiénicas máscaras brancas ou azuis, tapando talvez sorrisos e pedindo distanciamento.

Apesar da covid-19, ou por causa da covid-19, parece mais urgente gozar a felicidade que o verão nos pode oferecer.

 

 

03
Set20

Marcas da covid-19 na vida de todos os dias

João Miguel Almeida

A mobilização contra a covid-19 está a marcar a vida quotidiana. Algumas passarão à pequena história desta pandemia, outras continuarão connosco:

Envelopes nos restaurantes para guardar máscaras. Alguns restaurantes até capricharam nos logotipos inscritos nos envelopes. Para além do marketing, a eficácia da medida parece-me mais do que duvidosa. Mesmo desinfetando frequentemente as mãos parece-me mágico que uma máscara contaminada possa circular entre um ou mais envelopes e a cara de uma pessoa sem infetar ninguém.

Cartazes da clínica da mente na autoestrada a anunciar que tratam depressão, ansiedade e ataques de pânico. Provavelmente os cartazes já existiam antes da pandemia. Mas a covid-19 leva-nos a olhar para eles de outro modo. Em vez se dirigirem a uma minoria da população parecem dirigir-se à maioria.

Copos com saquinhos de ketchup, mostarda e maionese. O objetivo é que cada cliente toque apenas nos saquinhos que utiliza, em vez dos frascos de condimentos andarem a circular de mão em mão. É claro que o problema também se podia resolver desinfetando os frascos. Mas o impacto visual também conta.

Apps a classificar com cores a ocupação das praias. Além das apps há bandeiras. O vermelho é para praias com demasiada gente, o amarelo assim-assim e o verde para praias onde as pessoas estão à vontade para respeitar o distanciamento físico. Não vi ninguém a ser impedido de entrar na praia por causa de uma bandeira vermelha. Mas a ideia até pode pegar após o fim da covid-19. Qualquer pessoa poderá consultar uma app para saber em que praias é que corre menos riscos de tropeçar noutros banhistas.

05
Jul20

O vírus da mentira

João Miguel Almeida

É costume ser dito que na guerra a verdade é a primeira baixa. A verdade também está a ser dizimada pela epidemia de covid-19. A Grécia teria uma estranha imunidade à covid-19. Em Espanha, os números têm evoluído num sentido muito favorável ao turismo. Nos Estados Unidos e no Brasil os números são horríveis, mas o governo testa pouco, evitando que sejam ainda mais assustadores.

Nós por cá temos os números que temos, que estão a ser usados contra nós na guerra económica, em especial a guerra do turismo.

 É absurdo que o governo britânico tenha imposto quarentena obrigatória aos turistas ingleses que visitarem Portugal no regresso a Inglaterra, dado que a situação da pandemia em território inglês é muito pior do que em território português. Mas nem só os governos torneiam a verdade. A quarentena obrigatória não é aplicável à Escócia. O que acontecerá este verão é que muitos ingleses visitarão Edimburgo antes de visitarem Portugal. Haverá uma brutal descida de turismo inglês e uma explosão do turismo «escocês».

Esperemos que a saúde económica não seja mais flagelada do que a saúde física dos portugueses.

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