Vacinar as crianças contra a covid-19 é imoral
O governo quer vacinar 637.907 crianças para evitar 50 internamentos e cinco hospitalizações em cuidados intensivos. A relação causa-efeito é altamente discutível, pois as estimativas baseiam-se num ensaio clínico da Pfizer com menos de três mil crianças dos cinco aos onze anos, em contraste com os ensaios clínicos em adultos que abrangeram entre trinta e quarenta mil pessoas. Se partirmos do princípio de que a relação causa-efeito está certa, não está provado que o mesmo efeito não podia ser alcançado com uma vacinação muito mais restritiva. Parece-me óbvio que se vacinar mais de meio milhão de crianças só evita cinquenta internamentos, as crianças internadas são as que já tinham vulnerabilidades. A vacinação devia então dirigir-se a este grupo específico: crianças obesas, imunodepressivas, com doenças raras, etc.
Outro argumento a favor da vacinação massiva das crianças seria não tanto a proteção da saúde das crianças, mas reduzir os contágios. Mas este argumento é frágil. Portugal é um país envelhecido, onde há relativamente poucas crianças. E está mais do que provado de que a vacinação não evita o contágio. Ainda recentemente foi noticiado um caso de contágio num hospital de Málaga em que todos os profissionais de saúde estavam vacinados (ver aqui).
A vacinação de crianças é imoral porque um dos critérios da moral, já o afirmava S. Tomás de Aquino, é a prudência e não vejo como é que pode ser prudente uma operação que não reúne o consenso científico e técnico e em que há demasiadas incógnitas. Mas a vacinação de crianças num país integrado num espaço económico rico, como é o caso de Portugal, é também imoral do ponto de vista da gestão de recursos limitados. A prioridade devia ser vacinar os países pobres, onde nem sequer muitos profissionais de saúde e grupos de risco têm a primeira dose da vacina. Esta é a vacinação prioritária para reduzir os contágios e travar pandemia.